i hope tonight you will touch my hair, play a sad old song and draw ghosts in my back.

Thursday, February 21, 2008

"diz-me:


sou bonita, nos teus sonhos?"

Monday, February 04, 2008

tanto que eu não te disse.

"Lembro-me de quando nos enroscávamos. Lembro-me de dizermos que nos «ajustávamos», com um bem-estar raro como quando surpreendemos um pássaro no ninho: à medida do corpo, da temperatura, do peso.

Quando me aproximava do sofá onde já estavas deitado, era só deixar-me cair para logo sentir aconchego. Connosco a estratégia era adivinhada, ancestral, antiga, apesar da novidade que ainda éramos um para o outro.

Nesses momentos em que procurávamos abrigo diante do pretexto que é a televisão - e onde o sexo não era definitivamente o motivo, naquela languidez que se reveste de mantas e luzes brandas, o nosso toque era quente, sereno, balsâmico. Nessa tranquilidade silenciosa, o tacto era usado de forma muito natural, numa inata compreensão física de dois corpos diferentes, onde as mãos se tornavam confidentes honestas de desejos sem tempo para aspirações: mexíamo-nos com a espontaneidade ou o despudor com que se afaga um gato, no sossego do colo. Remexíamos a pele das nossas caras, massajávamos o cabelo um do outro, os nossos pés misturavam-se e as mãos ora se revolviam, ora vasculhavam os nossos braços e pernas. Isto passava-se de forma despreocupada e sem curiosidade, mas pela simples festa que é estar!

A nossa relação não era baseada em projectos ou hábitos de rotina, era uma ligação de quem se entrega a um bom vinho ou como quem dança desavergonhadamente a sua música preferida.

Recordando, posso comparar a nossa história com um daqueles dias que todos temos, em que nos entregamos ao sol, à erva, ao caracol que passa. Aqueles dias, da brilhante surpresa de nos esquecermos dos outros e de sorvermos o que nos aparece pela frente. Tu sabes fazer isso tão bem...

Ensinaste-me a beber e não engolir, mastigar e não devorar, morder sem destruir, apreciar e não desperdiçar.

Lembrei-me de ti quando num livro do Morris West, um dos protagonistas diz «... é melhor ser-se árvore e crescer calmamente sob o sol, do que macaco trepando em busca de fruta». Quando me vias galgar as tais árvores, olhavas para mim cá de baixo e, com a tua viola, cantavas com a serenidade de quem fuma o cigarro «depois do amor». Ouvindo-te, deixava-me escorregar até ao chão, e emocionada com a desprotecção da tua voz lembrava-me que os frutos que ia buscar podiam até ser saborosos, mas quando descesse, já podiam estar amassados e não saberiam tão bem. Então tinha sido bom descer até ti, quando não, ouviria a música de longe e era uma pena..."



Marta Gautier em Tanto Que Eu Não Te Disse

emotional landscapes.

O Inverno que venha e traga o frio todo de uma rajada só.
Os nossos corações não vão voltar a gelar.




b.